Jovem influenciadora da beleza negra, Naira Rivelli, fala da importância da desconstrução de estigmas do cabelo crespo.

08/12/2022

Naira Rivelli,

é curiosa, uma jovem negra de 18 anos, de família de imigrantes e que desde cedo precisou questionar como o nosso corpo reflete na sociedade. Passou por um tempo na busca de alguém que me mostrasse as possibilidades.

“Tudo começou através da procura, e de tanto procurar decidi me tornar a resposta. Eu busco trazer autoestima negra por além da estética, trago informação que por anos me foi negada, informações que fizeram com que eu alterasse e mudasse minhas características antes mesmo que eu soubesse o meu nome. Naira Rivelli com certeza é a construção de cansaço, curiosidade e vontade.“

Quão importante é falar dos cabelos crespos atualmente?

O cabelo crespo ainda está marginalizado, ainda é um dos cabelos que o mercado ainda tem pouco interesse em atender. Os padrões de beleza trabalham na manipulação da beleza, e no debate de cabelos crespos, a dor que está associado a ele.

Com a adaptação de padrões acabamos caindo em outras ditaduras, como a do cacho ou de fazer tudo possível para que ele esteja em um formato mais aceitável nos olhos do outro, mas o cabelo crespo não se encaixa nesse desejo do liso ou dos cachos perfeitos, e acabamos caindo em outro abismo, o do esquecimento. Falo sobre cabelo crespo para que meninas sabem que o nosso tipo de cabelo não é um tipo de transição para outro tipo, nem algo que precise ser domado ou definido, estigmas que encontramos tão presentes.

A palavra "Negra" tem mais sentido pra você agora? ou sempre teve desde a infância? Porque?

Eu cresci como uma criança preta, retinta e de cabelos crespos, então desde cedo fizeram questão que eu soubesse quem eu era, mas pelo ponto de vista do outro. No momento em que eu entendi a minha cor além da aparência foi o momento em que eu tive o processo de tornar-se negra. O me tornar negra tem a ver com pensar o meu corpo como um objeto político, e muitas pessoas negras que construíram caminhos abriram os meus olhos para essa identificação da negritude, figuras como Leila Gonzalez, Abdias Nascimento e muito mais.

O que tem aprendido como mulher negra no ambiente da tecnologia, que antes era dominado apenas por homens?

Eu aprendi o que de fato é a tecnologia. Tecnologia é a leitura da sociedade, a resolução dos seus problemas e tudo aquilo que possa trazer facilidade para esse grupo social no futuro, e não existe tecnologia sem sociedade. Mulheres negras estiveram a margem do acesso a sociedade a muito tempo, de maneira negligenciada e tivemos que construir os nossos próprios avanços, as nossas próprias tecnologias, os nossos sistemas de sobrevivências. Tecnologia é e sempre foi feita pela mão de mulheres negras.

Quais mulheres negras te inspiram?

As mulheres negras da minha família, que sempre foram matriarcas e chefes de família. Me inspira mulheres pretas que vieram antes de mim, construíram e ainda constroem referências que eu possa buscar. Na área de tecnologia há mulheres como Nina Da Hora, Deza Rocha (AfroyaTech), Karen Santos (UX para Minas Pretas), Grazi Mendes, e honrosamente Dorothy Vaughan.
Angela Davis, Bell Hooks, Sueli Carneiro, Katucia Ribeiro e muitas outras mulheres que estão e constroem essa jornada.

Para você, o que a mulher negra precisa fazer para enfrentar a falta de oportunidades e a falta de valorização da sociedade?

Acredito que devemos viver para além de sobreviver, viver para os nossos espaços, e abrir caminhos como já temos feito ao longo do processo. Tive a oportunidade de participar da organização e da idealização do projeto Julho das Pretas, que foi um dos primeiros eventos de lideranças negras na tecnologia focado em mulheres pretas, e é por aí que devemos seguir no caminho. Precisamos criar espaços pensados para os nossos corpos, para a independência de corpos pretos além da sobrevivência, mas entender o significado de UBUNTU. Quando uma mulher preta se movimenta, toda uma estrutura se movimenta com ela.

foto por sallve