Jovem influenciadora da beleza negra, Naira Rivelli, fala da importância da desconstrução de estigmas do cabelo crespo.

Naira Rivelli,
é curiosa, uma jovem negra de 18 anos, de família de imigrantes e que desde cedo precisou questionar como o nosso corpo reflete na sociedade. Passou por um tempo na busca de alguém que me mostrasse as possibilidades.
“Tudo começou através da procura, e de tanto procurar decidi me tornar a resposta. Eu busco trazer autoestima negra por além da estética, trago informação que por anos me foi negada, informações que fizeram com que eu alterasse e mudasse minhas características antes mesmo que eu soubesse o meu nome. Naira Rivelli com certeza é a construção de cansaço, curiosidade e vontade.“
Quão importante é falar dos cabelos crespos atualmente?
O cabelo crespo ainda está marginalizado, ainda é um dos cabelos que o mercado ainda tem pouco interesse em atender. Os padrões de beleza trabalham na manipulação da beleza, e no debate de cabelos crespos, a dor que está associado a ele.
A palavra "Negra" tem mais sentido pra você agora? ou sempre teve desde a infância? Porque?
Eu cresci como uma criança preta, retinta e de cabelos crespos, então desde cedo fizeram questão que eu soubesse quem eu era, mas pelo ponto de vista do outro. No momento em que eu entendi a minha cor além da aparência foi o momento em que eu tive o processo de tornar-se negra. O me tornar negra tem a ver com pensar o meu corpo como um objeto político, e muitas pessoas negras que construíram caminhos abriram os meus olhos para essa identificação da negritude, figuras como Leila Gonzalez, Abdias Nascimento e muito mais.
O que tem aprendido como mulher negra no ambiente da tecnologia, que antes era dominado apenas por homens?
Eu aprendi o que de fato é a tecnologia. Tecnologia é a leitura da sociedade, a resolução dos seus problemas e tudo aquilo que possa trazer facilidade para esse grupo social no futuro, e não existe tecnologia sem sociedade. Mulheres negras estiveram a margem do acesso a sociedade a muito tempo, de maneira negligenciada e tivemos que construir os nossos próprios avanços, as nossas próprias tecnologias, os nossos sistemas de sobrevivências. Tecnologia é e sempre foi feita pela mão de mulheres negras.
Quais mulheres negras te inspiram?
Para você, o que a mulher negra precisa fazer para enfrentar a falta de oportunidades e a falta de valorização da sociedade?
Acredito que devemos viver para além de sobreviver, viver para os nossos espaços, e abrir caminhos como já temos feito ao longo do processo. Tive a oportunidade de participar da organização e da idealização do projeto Julho das Pretas, que foi um dos primeiros eventos de lideranças negras na tecnologia focado em mulheres pretas, e é por aí que devemos seguir no caminho. Precisamos criar espaços pensados para os nossos corpos, para a independência de corpos pretos além da sobrevivência, mas entender o significado de UBUNTU. Quando uma mulher preta se movimenta, toda uma estrutura se movimenta com ela.