Em entrevista a Revista Negra, executiva Antônia Souza fala sobre seus aprendizados ao ser demitida da Meta.
Antônia Souza,
Mulher preta, nascida e criada em Duque de Caxias, baixada fluminense do Rio de Janeiro, filha da Selma e do José, esposa do Romero. "Acredito no poder transformador da educação e vejo diariamente esse poder mudando a minha vida". Formada em Administração pela UFRJ, em MBA em Business Intelligence pela Fiap. Têm em seu histórico profissional passagens nas maiores empresas do mundo, nomes como Amazon, L'Oréal, Uber e Meta. Apaixonada por tecnologia e inovação e atualmente atua como CEO da EVE NFT e COO da Lumx Studios, duas empresas de destaque no mercado brasileiro de web 3.
Na sua opinião, porque é tão importante construir networking?
Um bom networking te leva a oportunidades que muitas vezes você jamais imaginaria. Quando você investe tempo em consolidar a sua rede de relacionamentos é como se você estivesse evangelizando pessoas que na sua ausência falaram bem de você e farão com que outras pessoas, outras oportunidades cheguem até você.
Ao ser demitida da META, quais aprendizados você obteve ?
Eu nunca tinha sido demitida antes e fui demitida no que eu chamei de "melhor momento da minha carreira", havia feito um ano cheio de entregas. Dois dias antes da demissão eu estava no palco do maior evento de criadores da empresa encerrando o evento e falando sobre metaverso para centenas de pessoas ao vivo e milhares online. Logicamente ser demitida dois dias depois por um e-mail foi a pior experiência profissional que tive até hoje, mas ela também serviu para me fazer refletir sobre a profissional que eu estava me tornando e pra onde eu gostaria de levar minha carreira. Ser a profissional Antônia Souza e não a Antônia da empresa X. E isso pode ser super difícil quando fazemos o que amamos e vamos aos poucos absorvendo a identidade da empresa como nossa. Meus principais aprendizados são: Primeiramente sobre a importância de dedicar tempo para definir o que desejo para o futuro da minha carreira. Planejar de forma estratégica quais são os próximos passos possíveis e desejados. Depois nunca esquecer da construção da rede de relacionamento, dentro e fora da empresa. Se só te conhecem dentro da empresa em que você atua, no caso de uma demissão você não tem ninguém, nenhum contato. Por isso é primordial que a gente invista em se conectar com pessoas além dos muros das empresas. E por último nunca esquecer do marketing pessoal. Esse é bem ligado ao networking e envolve o trabalho de apresentar seus resultados, mostrar para as pessoas o perfil de profissional que você é. O famoso "não basta botar o ovo, é preciso carcarejar" , ainda mais se você é negro, infelizmente.
Construção de carreira se faz a longo prazo. Se tivesse começando agora, qual seria seu primeiro passo?
Definiria onde eu quero chegar. O que mais vejo nas pessoas em início de carreira é ir no ritmo e não planejar, definir onde gostariam de chegar, que perfil de profissional gostariam de ser. Sem isso muitos se pegam 5, 6, 10 anos depois perdidos pq olham pra trás e vêem que tudo o que viveram não foi intencional ou pior, que estavam à deriva.
O metaverso cada vez mais está sendo aderido por grandes empresas. Como essa nova realidade pode contribuir positivamente para empresas de pequeno porte?
Primeiramente é preciso explicar que o metaverso ainda não existe, o que temos são tecnologias que estão sendo desenvolvidas e que juntas e mais evoluídas, nos próximos anos serão o que podemos chamar de metaverso. Existe uma confusão muito grande que faz as pessoas pensarem que realidade virtual é o metaverso e na verdade é apenas uma das muitas tecnologias que nos possibilitarão experienciar o metaverso no futuro. E falando nessas muitas tecnologias as empresas de pequeno porte têm oportunidade utilizando por exemplo a realidade aumentada. Essa tecnologia é mais acessível do ponto de vista econômico e já está disponível nos smartphones e que pode ser explorada tanto como formas de marketing para as empresas, como para melhores experiências de produtos.
Como mulher preta, como tem sido sua experiência no meio corporativo de empresas renomadas? E fora dela?
Ser mulher e preta, nunca foi e nunca será fácil. A maioria das empresas que trabalhei eu era a única pessoa preta do time e às vezes uma das únicas da empresa. Acho que levei alguns anos para enxergar isso, foi só quando entrei no mercado de tecnologia que essa falta de representatividade me afetou. E aí eu conheci a síndrome do impostor, que no início não foi nada fácil, mas aos poucos eu fui vendo que eu merecia aquele lugar e não, eu não era uma fraude. Depois que entendi isso, decidi agir para que outras pessoas pretas pudessem trilhar caminhos semelhantes aos meus e então decidi abrir minha empresa de mentoria de carreira. Até o fim do ano passado, eu já tinha mentorado mais de 300 mulheres e jovens, em sua maioria negros, e busco sempre ter vagas pro bono para ajudar aqueles que não podem pagar mas que tem o desejo de mudar suas realidades.