Entrevista com escritora Maura Luza Frazão

20/09/2022

Nasceu na pequena cidade de Monção no interior do Maranhão e atualmente reside em São Luís, MA. Filha de Benedito Frazão Filho e Benedita Desidéria Martins Frazão, Maura é a filha mais nova de oito irmãos. Casada, mãe de dois filhos. Pedagoga, com Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional e Coordenação Pedagógica. Professora da rede pública Municipal. Possui uma vasta experiência na Educação Infantil e Ensino Fundamental Anos Iniciais e Anos Finais - Professora/Coordenação Pedagógica. Também com experiência em Consultoria Pedagógica. Desde a mais tenra infância sempre conviveu com diversos gêneros literários. Sua mãe, a D. Benedita Desidéria sempre fez questão de proporcionar aos filhos um leque de oportunidades leitoras, que iam desde histórias em quadrinhos até os clássicos da Literatura Infantil. Em suas lembranças, encontram-se aquele gostoso cheiro de livros, sendo estes novos que sua mãe levava quando empreendia viagem à capital do Estado, São Luís - MA para ver seus irmãos mais velhos que já trabalhavam lá. Na adolescência o seu amor pela cultura letrada só cresceu cada vez mais. O mais interessante de tudo, é que a mãe de Maura era quebradeira de coco babaçu e seu pai trabalhava em Olaria fazendo tijolos e telhas, e os dois só havia estudado os primeiros da Educação Básica anos iniciais, o antigo Ensino Fundamental menor.

Obras publicadas: Livro de poemas Spinas Nuance de Uma Essência pela Editora Versejar. São Paulo/2021; REVISITANDO MEMÓRIAS em Prosa & Versos. 1ª Edicão. Editora Ações Literárias. Sinop/ MT/2021; REVISITANDO MEMÓRIAS em Prosa & Versos. 2ª Edição. Editora Versejar. São Paulo/2022.

A mulher negra precisa de algum reconhecimento de valor na sociedade, para fazer a sua voz ser ouvida? 

Com certeza. É de suma importância fazer esse resgate da mulher negra como protagonista da sua vida e da sua história. Uma mulher com voz e vez na sociedade em que vive. Principalmente quando nos propomos a conhecer a trajetória de algumas mulheres que fizeram história e ao mesmo tempo passaram décadas esquecidas, por serem alvo de uma campanha de apagamento bem orquestrada por alguns que se intitulavam protagonistas da nossa história. artigo.

Falando de memórias. A palavra negra, tem mais sentido para você agora? Ou sempre fez? 

  Quando criança e adolescente eu não tinha essa consciência que tenho atualmente. Até porque em minha família a miscigenação brasileira é bem acentuada e essa mistura de raças, com alguns da pele escura de olhos claros e outros da pele clara de cabelos crespos e/ou encaracolados davam uma leve noção de "igualdade". Somente na Universidade tomei consciência da força da minha história enquanto mulher negra em um país que nega a sua raiz racista.

POR QUE escolheu a escrita poética para se comunicar com as pessoas? 

Apesar da minha intensa afinidade com o mundo literário, somente há pouco tempo me senti atraída pelo maravilhoso universo lírico poético. No início, ofereci resistência quando o assunto era escrever poemas ou contos. Tudo começou com uma provocação da minha irmã Nauza Luza Martins, que também é poeta, algumas sacudidas e incentivos, e a minha veia poética que estava adormecida, deslanchou também. Desabrochando em meu livro solo "Nuances de Uma Essência". Essência essa, que reverberou em diversas nuances: Cores, sabores, fragrâncias, tudo se misturando em um caleidoscópio de luzes e matizes, transformando-se num surreal arco-íris. Agora possuo o instrumento perfeito para cantar, encantar e decantar o universo em que vivemos.

Em sua poesia Maternidade, você fala sobre o sublime amor, tanto quanto os sabores amargos. Como foi o seu maternar? 

Apesar de um pouco cedo (com apenas 22 anos), por isso um tanto quanto difícil nos primeiros anos, pois ainda não tinha emprego, tampouco curso superior. Contudo, sempre tive o apoio da minha família e o pai dos meus filhos (meu esposo), sempre esteve comigo nessa luta. Mais essas dificuldades acabaram servindo para me transformar na guerreira que sou atualmente. É importante ressaltar, que quando eu falo dos sabores amargos eu estou fazendo uso da minha liberdade poética, com isso eu acabo generalizando um pouco. 

Quais mulheres negras te inspiram? 

Em primeiro lugar a Maria Firmina dos Reis, por sua trajetória de vida, suas lutas e conquistas em um tempo em que a mulher negra sequer era vista como pessoa. A Firmina é um verdadeiro exemplo de força feminina na luta da mulher negra no cenário maranhense, no Brasil e no Mundo. Também tenho grande admiração por nossas personalidades atuais como a Elisa Lucinda, a Conceição Evaristo, Glória Maria, Zezé Mota, Thaís Araújo, Raimunda Frazão, Lindevania Martins, entre outras.