Entrevista com escritora e ativista Dai Sombra Aisha
Dai Sombra, natural do Brasil, Rio de Janeiro, migrante em España há 21 anos. Retornou ao Brasil entre os anos de 2014 e 2018, período que cursou licenciatura em Sociologia, não concluindo, mas manteve constante pesquisa relacionada à história afro-brasileira, descolonialidade e afrocentricidade.
Produtora Sociocultural, idealizadora da Diáspora Productora, valorizando a cultura afro e diáspora no mundo. Em Espanha, co-coordena um grupo de estudo que criou com o nome Afro brasilidade, onde reúnem pessoas brasileiras residentes fora do Brasil em uma re-leitura histórico social da população afrodescendente brasileira.
É professora de capoeira da escola Centro Cultural Senzala - Mestre Ramos, e oferece aulas na cidade de Barcelona. Membra co-fundadora do coletivo QuilombUnido, que reúne três escolas de capoeira na cidade de Barcelona e fomenta os estudos culturais afroamerindios brasileiros.
Ativista antirracista, é membra da Assembleia Mujeres Brasileñas contra el fascismo - MBCF, criado em Barcelona em 2018, a consequência do assassinato da vereadora Marielle Franco e a expansão conservadora na presidência do Brasil.
Idealizadora do Coletivo: Ciclo Mujeres, um projeto dentro da filosofia africana Ubuntu de viver e compartilhar valores alternativos ao capital financeiro.
Diáspora Productora
Livreira de profissão e escritora, suas crônicas são publicadas esporadicamente em colunas diversas e mensalmente na coluna FIBRA (Frente Internacional Brasileira). Planelista e mediadora de conferências e webnar sobre sociedade, cultura e filosofia afrodescendente. Em 2021, lançou seu primeiro livro dentro do gênero literário de poesia marginal, retratando sua vivência pessoal e coletiva para transmutar luto à luta e dor em amor através do ato que dá nome ao livro: Manifestar.
Ser mulher, periférica e negra. É morrer cada noite, para na manhã seguinte, renascer.
Ser mulher negra ao longo da história é ter experimentado todas as circunstâncias possíveis. Somos rainhas de grandes civilizações, mas também somos aquelas que a sociedade violenta e invisibiliza, passando por experiências tão duais como o poder, a violação, a escravização de filhos, a amamentação compulsória de filhos colonos, a matriarca familiar, a que chora o assassinato de seu filho pelo Estado, a que empreende, a que acolhe, a que silencia, a que se empodera, a que sente frio e fome, a que escreve, a que vai pra rua, a que reside no terreiro...somos muitas!
Um dos meus poemas contém as seguintes estrofes: "Ser mulher, periférica e negra é morrer cada noite pra na manhã seguinte renascer.(...) Ser negra é ser história. Orgulho da pele carrego no peito!
E é por isso que eu amanheço, sou resistência, renasço das cinzas
Porque sei que muitas também levantaram,
Não posso deixar as manas caminharem sozinhas...."
Acredito que ser mulher na sociedade atual é ter em si todas essas experiências, cicatrizes e legado.
África mãe
Me reconheço como uma mulher afrobrasileira. Que carrega em si a África no seu ver e estar no mundo. Venho de uma família afrocentrada, de terreiro, da capoeira e dos movimentos socioculturais. Minha admiração e consciência das minhas heranças africanas sempre estiveram na minha vida e por sorte, também desde uma perspectiva positiva, diferente da sociedade e seus racismos estruturais.
Há alguns anos investigo e estudo sobre as epistemologias afros e filosofias africanas. Vejo os pluriversos desde a perspectiva do mulherismo africana no qual me identifico e aos 15 anos de idade estou conectada com o rastafarismo e pan africanismo.
Sinto que África habita em mim e nas confluências que vou fazendo pela vida com o continente e/ou com seus nativos. Em 2021, tive a oportunidade de pisar solo africano, com vivências significativas na África do Sul e Moçambique.
África é mãe e eu sou a filha na diáspora da vida.
A CAPOEIRA É FEMININA
O projeto da Capoeira Descolonizadora tem como objetivo criar uma linha crítica entre a apropriação cultural e apreciação cultural. Uma questão social muito discutida entre pessoas comprometidas com as epistemologias do sul e que eu focalizo na capoeira, devido a exercer essa prática de ensino-aprendizado em um país europeu.
Quando eu nasci, um dos meus tios já era mestre de capoeira e ela sempre esteve presente.
Não sei a idade exata que comecei, mas aos 13 anos (1996) ganhei minha primeira graduação e desde então nunca deixei de praticar capoeira, pesquisar e aprender dela. Em 2018 iniciei aulas de capoeira dentro de um projeto descolonizador, onde há espaços de aulas somente para mulheres, mistos não binário e infanto-juvenil.
Livro Manifestar de Dai Sombra Aisha
No prólogo do livro Manifestar, a autora dedicou ao seu povo.
"Publicar minhas poesias marginais veio do ativismo de fomentar escritoras negras periféricas e escreverem suas vivências e criar suas memórias. Eu escrevia para não me afogar em palavras e publiquei o livro para fazer ecoar minha e outras vozes. Gosto de elucidar que escritora não é aquela que pública e sim aquela que escreve".
O caminho para uma mulher preta publicar, ser reconhecida e respeitada como madrigestora de saberes ainda tem o peso do racismo e sexismo.
Livro MANIFESTAR, se encontra no formato digital na Amazon. Em breve, ele estará no formato físico. Esse projeto, será distribuido como doações a comunidades e bairros periféricos do Brasil e países lusófonos na África. Autora declarou, que ainda está na etapa inicial deste projeto literário e que entre corres, amores e dores, seu Manifestar ainda vai inspirar outras pessoas.
Instagram pessoal: @daisombraa
Instagram capoeira: @sombrasenzalacaapoeira
Materiais que contém A participação da autora em eventos com eixos transnacionais feitos na língua portuguesa.
Mulheres Negras que inspiram...
01
Márcia Maria Cruz (Belo Horizonte - MG) é jornalista, doutora em ciências políticas e mestre em comunicação social. É autora do livro Morro do Papagaio e umas das finalistas do "16º Troféu Mulher Imprensa: Pertencimento e Inovação" 2022.
02
Irma Teixeira (Rio de Janeiro - RJ) é Mestra em Educação e Turismo Urbano.Sua tese " O turismo sobe o Morro do Vidigal: Uma Análise exploratória
Irma Teixeira Miranda, questiona a contribuição do turismo para os moradores de favelas e reflexões sobre as possibilidades do turismo baseado na solidariedade, minimizar os problemas do processo da gentrificação e promover o desenvolvimento a partir dos valores locais
03
Katherine Reyes ( Santo Domingo- RD) é fotoperiodista com um projeto de exposição fotográfica " Mujeres Negras Viviendo en un Mundo Paralelo" plasmando a realidade da mulher negra na sociedade.
04
Rita Stylus ( Rio de Janeiro- RJ) promotora cultural, passista e mestra de samba criou a Escola de Samba Alegria de Barcelona onde confecciona, ensina e promove o carnaval na cidade.
05
Mirla RioMar ( Salvador-BA) é cantora e compositora, lançou neste ano seu primeiro álbum musical com o título Afrobrasileira onde canta suas raízes e sua cultura.