Em entrevista, a designer e ilustradora Mariana Dutra, fala sobre sua profissão e como o racismo estrutural tenta tirar a confiança de si mesma. 

18/11/2022

Mariana Dutra

Mulher negra, assexual, em busca de fazer trabalhos incríveis através da arte. Mariana, é uma pessoa muito apaixonada por desenhos desde muito nova. Escolheu Design como o espaço que te daria possibilidade de trabalhar com arte e acabou descobrindo um mundo muito maior da área criativa. Ela ama o ramo que escolheu atuar, mas desenhar e pintar sempre vai estar em primeiro lugar em seu coração. Moradora do RJ e se formou na UFRJ. Hoje além de estudar desenho e pintura, também tenta criar conteúdo para a internet através de livestreams. É voluntária da comunidade Wakanda Streamers.

2- Quando descobriu que ilustração seria sua porta voz?

Desde novinha eu sonhava em aprender a desenhar por conta dos animes, desenhos animados e histórias em quadrinho que consumia. Eu via nesses mundos de fantasia e histórias de grandes aventuras as formas de contar histórias que inspiram muito as pessoas. Eu queria aprender isso! Saber como se produzia uma história, como se cria os mundos, personagens, cenários, principalmente na forma visual. Entender o que o conceito mais a imagem podem contar e despertar nas pessoas.

3- A internet tem contribuído com sua profissão de ilustradora?

Inicialmente eu tentei usar a internet como forma de divulgar meu trabalho com desenho e conseguir mais oportunidades. Porém me desiludi bastante com os tantos parâmetros que as redes sociais cobram para que você tenha um mínimo de exposição. Atualmente tenho usado mais a internet para estudos dos meus processos, conceituação e finalização de desenho. O que tem me ajudado a estar em contato com outros artistas e profissionais e traz uma troca incrível de aprendizado.

4- Essa profissão é conhecida por ser ocupada por homens. Como tem sido conquistar um lugar nessa profissão como mulher negra?

Ainda é bem difícil e tem que ter muita resiliência para não cair na armadilha de não acreditar em si mesma e no próprio potencial. Eu cresci me cobrando muito e tentando alcançar perfeição em tudo achando que assim não teriam motivos para me negarem as oportunidades. Isso adoeceu muito a minha autoestima e hoje tenho que me lembrar todos os dias o que eu sei fazer e que é algo muito bom. O racismo e muitas outras violências que sofro, tentam tirar de mim a força de vontade para continuar minha jornada e confiança no que sei e conquistei até hoje. É uma briga constante na minha cabeça e tento me cuidar o máximo possível e ficar ao lado de quem me apoia de verdade.

5- Qual tema você se sente mais à vontade para ilustrar?

Eu adoro retratos! Sempre achei incrível a capacidade de transformar o visual do mundo real de uma pessoa em arte no papel. Paisagens e cenários também são maravilhosos. Me sinto viajando para um lugar ou época diferente sem precisar sair do lugar. Atualmente estou descobrindo o gosto pela criação de conceito para props (objetos), personagens e cenários. Tem sido bem divertido e explicativo estudar os processos para criação desses temas e de como são usados nas indústrias.

6- Mulheres negras que te inspiram?

Caramba tem muitas que me inspiram! Quando comecei a usar redes sociais para divulgar meu trabalho, eu fui atrás de artistas negras porque era a época que eu estava começando a entender como o racismo nos esconde dos espaços. Conheci pessoas incríveis como Negapeta, PretaIlustra, limaocomvodka (não binárie), Jéssica Góes, gdbee (Geneva Bowers) entre muitas outras que trabalham tanto com tradicional quanto com o digital. No meio de games e livestreams eu admiro muito o trabalho da Athenaxis, Sher Machado e imladris (Giovana). Muitas amigas pretas também estão se aventurando nessas áreas e sempre estou acompanhando e dando apoio. Construir essa rede foi mega importante para mim.