Mulheres no comando: Seu protagonismo está sendo sugado pela síndrome da impostora.

18/03/2023
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Por Patrícia Rocha, 18 de Março de 2023

Quando as mulheres decidem empreender, muitas vezes é por necessidade de gerar renda para si e suas famílias, ou por um desejo de ter seu próprio negócio. Antes de começarmos, gostaria que refletisse sobre sua vida nos últimos anos: o que mudou, o que você produziu e quais foram suas conquistas.

Para abordar o assunto, vou usar como pano de fundo o cenário da pandemia. Uma pesquisa feita pelo Sebrae, relatou que países liderados por mulheres durante a pandemia tiveram melhor gestão, lidando não apenas com a doença, mas também com os desafios decorrentes dela. Identificaram-se algumas características dessas líderes, como humildade, altruísmo e prudência - habilidades que as mulheres vêm treinando desde suas ancestrais. A humildade para lidar com as situações, o altruísmo para priorizar as pessoas e a prudência para otimizar recursos.

Durante a pandemia, muitas mulheres paralisaram ou fecharam suas empresas por motivos como priorizar aqueles que precisavam e conter recursos em um período tão delicado. Por outro lado, muitas mulheres se adaptaram com facilidade ao mercado digital, o que levou a um aumento no número de mulheres empreendedoras nesse setor.

É importante notar que a síndrome da impostora pode prejudicar o protagonismo dessas mulheres.

As mulheres demonstram notável resiliência, adaptando-se bem a situações adversas. No entanto, quando esses períodos prolongam-se, nossa confiança pode ser abalada, afetando nosso senso de valor pessoal. Começamos a nos contentar com pouco, achando que é tudo o que merecemos, permitindo que a síndrome da impostora se instale.

Essa síndrome é um conjunto de crenças limitantes sobre nosso valor, habilidades e merecimento. Ela surge em momentos de crise, quando sentimos que nossas competências não atendem às exigências e pressões que enfrentamos.

Como a síndrome da impostora afeta as empreendedoras?

Trabalhando há bastante tempo com mulheres empreendedoras, é comum ouvir sobre a síndrome da impostora e, pessoalmente, não estou imune a isso. É importante cuidar, pois a síndrome da impostora pode transformar a humildade que nos ajudou a resistir em momentos difíceis em algo que nos faz sentir pequenas, a ponto de nem conseguirmos afirmar que somos empresárias. Muitas vezes, só conseguimos dizer que temos um "negocinho" ou que abrimos uma empresa em nossa casa.

Ao olhar a história de fundadores de grandes empresas, donos de startups e até mesmo o próprio Steve Jobs, percebe-se que eles nunca trataram suas empresas como "negocinhos". Jobs, por exemplo, abriu sua empresa dentro da garagem de sua mãe e nunca a tratou como algo pequeno. Hoje, vejo mulheres que empregam 10 famílias, ajudam em obras assistenciais e combatem a violência doméstica, mas ainda assim falam sobre suas empresas como se fossem "negocinhos". É assim que a síndrome da impostora pode afetar a vida das empreendedoras.

Mulheres, ser protagonista significa escolher cuidadosamente as palavras que você usa para descrever sua vida e, mais importante, ser capaz de comunicar a transformação que você traz para a vida das pessoas. É importante estar atenta e não cair na armadilha da síndrome da impostora, que muitas vezes usa a desculpa da "humildade" para nos diminuir.

A prudência que serviu para economizar recursos durante momentos de crise pode agora estar nos impedindo de investir no crescimento de nossa empresa, dizendo que só devemos fazê-lo quando já formos grandes o suficiente. Cuidado com essa armadilha! Às vezes, investir em recursos pode otimizar nosso tempo e ajudar a produzir mais no presente.

O altruísmo, que nos ajudou a ser empáticas e a colocar as necessidades dos outros em primeiro lugar, agora pode estar nos impedindo de desenvolvermos nossas habilidades profissionais e pessoais. Não se coloque em segundo plano por causa das necessidades dos outros. Comprar comida para uma criança enquanto você está for a fazendo negócios não vai prejudicar seus filhos. Não se limite a participar de eventos de networking ou qualificações por causa de obrigações familiares. Encontre soluções e delegue responsabilidades para que possa dedicar tempo e energia para o seu desenvolvimento.

Mulheres, ser protagonista é escolher as palavras certas para descrever o que você faz na vida e, mais importante ainda, é saber transmitir a transformação que você proporciona na vida das pessoas. Por isso, é importante prestar atenção e tomar cuidado para não cair na armadilha da síndrome da impostora que usa a humildade contra você, fazendo você se diminuir e se sentir incapaz de investir em recursos para o crescimento da sua empresa.

É hora de deixar de lado a prudência excessiva que poupou recursos durante a crise e começar a investir em recursos que vão otimizar seu tempo e aumentar sua produção. Além disso, é preciso deixar de lado o altruísmo em excesso que coloca as necessidades dos outros antes das suas próprias necessidades de desenvolvimento pessoal e profissional.

Não tenha medo de pedir ajuda para cuidar dos seus filhos ou de seus pais enquanto você se dedica aos seus negócios e não deixe de reagendar compromissos importantes em prol do seu sucesso e sustento. Não deixe que suas oportunidades passem por conta de um modelo de crenças limitante.

Precisamos urgentemente calar a voz da impostura e assumir nosso papel de protagonistas em nossas vidas. Vamos chamar de volta a nossa força interior e deixar a síndrome da impostora para trás.

Ser protagonista é assumir a gestão dos seus recursos e fazer o que você determinou como propósito desde o início. Não tem a ver com brilhar, mas sim com ocupar o primeiro lugar na sua empresa como CEO, fundadora e responsável por tomar decisões e fazer o que precisa ser feito, independente do tamanho do seu negócio. É estar em primeiro lugar dentro do seu negócio e gerir seus recursos. 

O protagonismo empresarial significa assumir a gestão dos seus recursos (tempo, dinheiro, talento, energia e relacionamentos) e fazer o que você determinou como propósito desde o início. É importante gerir sua empresa e seus recursos com inteligência, planejamento e sem procrastinação, priorizando seu próprio bem-estar e investindo em seu talento e energia. Além disso, é fundamental cultivar bons relacionamentos e se afastar de pessoas que não contribuem para seu crescimento pessoal e profissional. Cuidar de si mesmo é o seu maior patrimônio, e uma boa gestão do seu negócio é fundamental para ter sucesso e qualidade de vida.


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Na coluna de negócios da revista Negra, Patrícia Rocha, consultora de negócios e colunista respeitada, traz à tona uma pauta de extrema relevância. Explora de forma objetiva e incisiva o impacto positivo da presença feminina na política, indo além da mera representatividade. Suas reflexões destacam como as mulheres, ao adentrarem esse ambiente,...