PROFª  Dra. Cleidenice Blackman, de Rondônia, fala sobre seu livro "Do Mar do Caribe à beira do Madeira" e desmistifica a romantização da imigração.

21/11/2022

PROFª DRA CLEDENICE BLACKMAN

É natural de Porto Velho/RO, Descendente da Quarta Geração de Barbadianos(as). Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Campus Marília (2018/2020). Mestra em História e Estudos Culturais pela Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR (2013/2015). Mestra em História, Direitos Humanos, Fronteiras e Culturas no Brasil e América Latina pela Universidad Pablo de Olavide/Sevilla (2008/2010). Pós-Graduada em Gestão, Supervisão e Orientação Escolar pela Faculdade de Ciências Administrativas e Tecnologia de Rondônia - FATEC-RO (2007/2008). Bacharela e Licenciada em História pela Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR (2003/2006). Bacharela em Biblioteconomia pela Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR (2009/2013). Atuando principalmente nos seguintes temas: História de Rondônia, Historiografia sobre os(as) Afro-Antilhanos(as), Imigração dos(as) Barbadianos(as) ou antilhanos(as) para Amazônia Brasileira, especificamente, para Porto Velho. A mulher Afro- Antilhanas de Porto Velho/Brasil e a sua anterioridade na Educação e descendência, Patrimônio, Identidade, Gênero, Memória, Cultura, Fontes de Informação e Assessoria para Centro de Cultura: Bibliotecas, Centro de Documentação, Memória, Museus, Editoras. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnologias GET/IFRO. Professora de História na Prefeitura Municipal de Porto Velho. Bibliotecária/Documentalista no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia - IFRO. Produtora Cultural, Historiadora, Escritora e Membra efetiva da Academia Rondoniense de Letras - ARL ao titular da cadeira nº 36cujo patrono é Henry Major Tomlinson (2020). 

Quando surgiu a ideia de escrever Do Mar do Caribe à beira do Madeira? 

Então, sou descendente de barbadianos(as), meus avôs Preston Blackman e Constância Goodrich vieram de Barbados por volta de 1910 para o Brasil, mais precisamente para Porto Velho...o meu bisavô Preston veio trabalhar como Mecânico Ajustador e Bombeiro Hidráulico na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré - EFMM, cresci em um ambiente bilíngue inglês/português. E em 2003 a 2006 fui fazer a minha primeira graduação em História (bacharela e licenciada) quando me deparei com textos eurocêntricos, preconceituosos e que não retratava a história da minha família e consequentemente, das várias famílias de descendentes de barbadianos(as), granadinos(as), jamaicanos(as) e demais ilhas de colonização inglesa no Caribe foi o que com as minhas pesquisas demonstrou e desde 2016 utilizo a nomenclatura afro-antilhano para nomear este grupo tão heterogêneo culturalmente à qual estudei durante todo o meu processo acadêmico (bacharelado ao doutorado em educação). Diante disso, fui fazer uma vasta pesquisa documental e bibliográfica à qual tive acesso a cartas em inglês, processos judiciais, fotografias, fichas funcionais, relatórios, jornais e outros confrontando com a historiografia consegui produzir os dois livros: 1 - Do mar do Caribe à beira do Madeira: Historiografia, Cultura e Imigração (2019) e o 2 - Do mar do Caribe à beira do Madeira II: A diáspora afro-antilhana para o Brasil (Projeto Livro Inédito - Categoria A - Contemplado Edital nº 31/2021/SEJUCEL-CODEX - 2ª Edição Marechal Rondon Prêmio de Produção Literária, Fonográfica e Digital para Difusão de Expressões Culturais ) ambos os livros são resultados desse processo acadêmico iniciado em 2005 em buscas em arquivos públicos na cidade de Porto Velho, Rio de Janeiro e na Internet.

Na sua opinião, romantizar a imigração, pode prejudicar quem tem o desejo de imigrar para outro país? 

Acredito o inverso que romantizar o processo imigratório faz com que muitos(as) queiram conhecer outros países, como exemplo cito aqui que durante minha pesquisa alguns descendentes tinha a visão de que eram imigrantes da Inglaterra (eram ingleses) e não que os antepassados foram levados dos vários países da África para as Antilhas Inglesas no período de colonização Inglês, mas, pesquisa serve para romper com estereótipos e acrescentar dados e informações que o caso de nossa busca e pesquisa, pois, a nossa historiografia é majoritariamente eurocêntrica ocidental. 

Como você vê a cultura de Rondônia? 

Um mosaico cultural, mas podemos dizer que em Porto Velho que é a capital a cultura ribeirinha, amazônica busca resistir em meio, a avalanche culturalista sulista/ocidental. 

Qual a mensagem você quis passar com o livro Do Mar do Caribe à beira do Madeira?

Vou citar algumas, mas, posso dizer que tem inúmeras mensagem: 1 - Destacar e Comprovar uma nova historiografia sendo os(as) imigrantes negros(as) das Antilhas Inglesas precursores(as) na educação, na saúde, na cultura e em outras frentes. Consequentemente, atesta o preconceito constante na historiografia ocidental tradicional e a visão planificada de um grupo de imigrantes que são heterogêneos(as) culturalmente. 

O primeiro festival, que leva o mesmo nome do seu livro, aconteceu em 2019. O próximo já tem data marcada? Qual é o objetivo do Festival?  

Sim o primeiro festival foi realizado em 09 de nov. de 2019, em Porto Velho no Teatro Guaporé à qual elaboramos um artigo (com mais duas pesquisadoras) que pode ser acessado por intermédio, do link: Clique aqui, A II edição do Festival do Mar do Caribe à beira do Madeira já aconteceu de maneira online e está disponível no Canal Cleide Blackman, acessando o link: clique aqui para assistir.

Destacamos que a II edição do Festival Do mar do Caribe à beira do Madeira foi um Projeto aprovado pelo Edital nº 32/2021/SEJUCEL-CODEX - 2ª Edição Pacaás Novos Prêmio Para Difusão de Festivais, Mostras e Feiras Artístico-Culturais. Lançado nos dias 24, 25, 26, 27 de março de 2022.

O objetivo do Festival é justamente dar visibilidade a essa nova narrativa que eu venho pesquisando desde os anos de 2005. Contudo, éfestival inédito versa sobre os resquícios culturais deixado pela comunidade afro-antilhana de Porto Velho tem uma perspectiva de alcance regional, nacional e até internacional. Mas, principalmente no que tange o reconhecimento, a participação, contribuição desta população afro-antilhana que são os imigrantes das Antilhas Inglesas que aportaram em Porto Velho desde o início da Construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (1907/1912) e sua descendência que cooperaram para a construção inicial da cidade de Porto Velho e, assim como, para todo esse processo atual da cidade, pois nesta localidade há centenas de descendentes contribuindo nas artes, na música, na educação, engenharia, saúde e outras frentes de trabalhos. Apesar disso, está proposição de Festival Cultural dispõe-se no afloramento do sentimento do conhecimento para desenvolver o pertencimento entre os portovelhenses e rondonienses de nascimento ou não. De maneira específica este Festival será baseado no livro: Do mar do Caribe à beira do Madeira: Historiografia, Cultura e Imigração (2019) e na tese de doutorado em educação denominada: A mulher afro-antilhana de Porto Velho e sua anterioridade na educação (2020) trabalhos produzidos pela proponente Cledenice Blackman.

Você acredita que os Rondonienses, pouco se sabe, sobre a história de Rondônia? 

A nossa história está em construção, mas ultimamente temos vários trabalhos de pesquisa com potencial inédito sobre a nossa história de Rondônia. Vale ressaltar, que não é apenas os rondonienses que conhecem pouco sua história, mas, a História é uma forma de poder (controlar, campo de disputa hegemônico...) consequentemente, a história altamente disseminada é a sob o viés eurocêntrico, na perspectiva dos vencedores. Mas, a cada ano com o restabelecimento e reconstrução do nosso processo democrático que nos últimos anos venho sofrendo ataques reacionários...estamos tendo a oportunidade de conhecer pesquisa sob o olhar das comunidades tradicionais, originárias, afro-descendente, afro-antilhana e entre outras inviabilizadas pelo discurso colonizador.

Imagem 1 - Fotografia de Saulo Sousa, Imagem 2 - Fotografia de Saulo Sousa, Imagem 3 - Fotografia: Natalí Araújo, 

Imagem 4 - Fotografia Mario Venere