Projeto levou mil crianças para oficinas de circo e preservação ambiental em escola dentro da mata

07/06/2025

Nos dias 5 e 6 de junho, durante a semana do meio ambiente, uma escola cercada por árvores centenárias e hortas comunitárias, no bairro rural de Chã de Cruz, em Paudalho (PE), se transformou em um picadeiro a céu aberto para ensinar sobre natureza, ancestralidade e futuro. A Escola Municipal Maria de Fátima foi o cenário da "Mostra Meio Ambiente no Picadeiro", projeto gratuito que integrou oficinas de sustentabilidade, arte circense e educação ambiental para cerca de mil estudantes da rede pública dos municípios de Paudalho, Camaragibe e Abreu e Lima. A ação aconteceu dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia-Beberibe, uma das mais relevantes unidades de conservação de uso sustentável de Pernambuco.

Idealizada pela produtora cultural e educadora Camila Gatis, com direção pedagógica do educador Rodrigo Surucucu, produção da Cabocla Produção e incentivo do Programa Nacional Aldir Blanc Pernambuco, a iniciativa foi considerada inédita na região. Pela primeira vez, alunos do ensino fundamental dessas localidades vivenciaram aulas diferentes e inovadoras, em que o meio ambiente se transformou em sala de aula e o circo, em ferramenta de aprendizado e sensibilização.

As atividades incluíram oficinas de sabão ecológico com reaproveitamento de óleo, acrobacia aérea em tecido, malabares com materiais recicláveis e uma vivência agroecológica com cantigas de coco, promovendo o contato direto com a natureza e com saberes tradicionais. Também houve espetáculos e rodas de conversa com tradução em Libras, garantindo a acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva.

Entre os destaques da programação, esteve a apresentação do espetáculo "O Encontro da Tempestade e a Guerra", do Circo Experimental Negro, seguido por uma roda de conversa sobre estética negra, pertencimento cultural e acessibilidade. A discussão trouxe à tona a importância de ações antirracistas e do resgate da ancestralidade dos povos negros e indígenas como parte essencial da educação para um futuro sustentável. No segundo dia, os estudantes acompanharam a Mostra de Circo APA Viva, com apresentações da Cia. Penduricalho, da Família Malanarquista, do Palhaço Gambiarra e encerramento musical com o grupo Encanto D'Água, em um show de coco de roda.

A curadoria artística priorizou profissionais que já atuam na própria região ou em municípios vizinhos, promovendo a identificação com os estudantes e demonstrando que o circo, a arte e a preservação ambiental também são caminhos possíveis de futuro. "Queríamos que os jovens se reconhecessem nos corpos que estavam no picadeiro. O Palhaço Gambiarra, por exemplo, nosso mestre de cerimônia, foi aluno da escola Tito Pereira (uma das participantes). A partir dessa identificação, buscamos mostrar que esses espaços também pertencem a eles, e trazer novas perspectivas de futuro. O projeto é todo sobre isso: novas perspectivas de futuro. E como diz Krenak: o futuro é ancestral", afirmou Camila Gatis.

A ação foi realizada dentro da APA Aldeia-Beberibe, criada em 1987 e com cerca de 31 mil hectares, abrangendo os territórios de Paudalho, Camaragibe, Abreu e Lima, São Lourenço da Mata, Igarassu e Recife. A área protege importantes fragmentos de Mata Atlântica e mananciais hídricos como os afluentes da barragem de Botafogo, responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana do Recife.

Além de abrigar biodiversidade ameaçada e nascentes estratégicas, a APA sofre com pressão urbana e desmatamento. Por isso, ações como essa, que unem educação, arte e pertencimento territorial, foram consideradas essenciais para formar multiplicadores ambientais nas comunidades locais. "Educar dentro da mata é uma forma de proteger a floresta com afeto, com conhecimento e com o corpo presente", resumiu Surucucu.

As escolas participantes foram: Escola Municipal Maria de Fátima, Escola Estadual Tito Pereira, Escola Estadual Torquato de Castro, Escola Estadual Major Lélio e Escola Estadual Antônio Fagundes. A mostra contou com o apoio do Fórum Socioambiental de Aldeia, do Laboratório Interdisciplinar de Anfíbios e Répteis da UFRPE (LIAR/UFRPE), da Cia. Penduricalho e de coletivos artísticos locais.

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Ficha Técnica

Coordenação Geral e Direção Artística: Camila Gatis

Produção Geral: Cabocla Produção

Direção Pedagógica: Rodrigo Surucucu

Apoios: Escola Municipal Maria de Fátima, Penduricalho Acrobacia Aérea, Fórum

Socioambiental de Aldeia, Laboratório Interdisciplinar de Anfíbios e Répteis (UFRPE)

Incentivo: Programa Nacional Aldir Blanc PE

Assessoria de Imprensa: Salatiel Cícero