Superestimados e Discriminados - por Gina Ribeiro

18/10/2022

escrito por Gina Ribeiro

Há um mês estava eu e meu marido buscando em um shopping de Salvador uma cafeteria para tomar um café e comer algo antes de uma Palestra que eu ia dar, rodamos o shopping buscando uma que já íamos todas as vezes que íamos na cidade, mas mudaram ela de lugar; e como o shopping é grande e estávamos com pressa resolvemos escolher a que estivesse mais acessível naquele momento. Encontramos uma, sentamo-nos e esperamos ser atendidos. As atendentes nem nos olharam, a dona da cafeteria fingiu não nos ver, apesar de eu acreditar ser impossível isso porque sou uma mulher GRANDE e negra! Seguimos esperando mais alguns minutos e nada aconteceu. As atendentes seguiam de costas para nós dois e foi aí que eu finalmente me expressei e disse a meu marido: "Não é possível que não vamos ser atendidos porque somos negros!" E ele saltou com a frase clássica "Pare de se vitimizar, amor.", eu respondi "quanto você quer apostar que se entrar pessoas brancas aqui serão atendidas antes de nós?". Eu só fiz fechar a boca e um homem branco entrou com um acompanhante e imediatamente recebeu o cardápio e detalhe: a mesa deles estava do lado da nossa. Em seguida entraram mais duas pessoas brancas e também foram atendidas. Eu disse a meu marido "Vamos embora", ele se levantou e fomos. Meu marido nunca havia sofrido racismo ou pelo menos nunca tinha sido tão explícito assim; eu por outro, lado já estava acostumada com essa dor já sabia bem como não ser bem-vista pelo meu tom de pele isso já era uma constante em minha vida, infelizmente. 

Eu poderia ter feito um escândalo nesse dia, podia ter ameaçado processar e ter conseguido chamar a atenção de muitas pessoas, mas naquele dia que para mim era tão especial eu não permitiria que o racismo tirasse de mim o que estava sentindo por mim mesma eu estava orgulhosa de mim era a minha primeira palestra, a primeira vez que contaria sobre a minha história para mulheres negras como eu e isso nenhuma atitude racista me tiraria.

Eu já havia deixado o racismo tirar de mim a adolescente feliz a adulta que tentava se encaixar em padrões europeus a mulher madura que alisava o cabelo porque não conseguia se ver linda com as ondas de seus cabelos a mulher negra de corpo grande e curvas maravilhosas que tomou remédio e forçava o vômito por acreditava que ser magra como as modelos das revistas era o lindo, não ele não me tiraria a felicidade e o orgulho mais uma vez. Então eu não gritei, eu não fiz um escândalo eu não ameacei processar eu só engoli e fui fazer o que precisava ser feito e sei que aquele dia ficará marcado em minha memória não só como o dia da minha primeira Palestra, mas também como o dia em que fomos discriminados por sermos quem somos por sermos como somos. 

 Sim ser mulher e negra é difícil, é doloroso e nos faz ter que mostrar nosso valor cada vez mais porque somos cobradas de uma maneira diferente somos cobradas pela cor da pele ser diferente pelo cabelo crespo e ondulado pelo nariz que não é afilado e por muitas outras coisas, mas temos a mesma cor de sangue que todos os outros humanos desta terra e temos os mesmos direitos e deveres que eles e por isso merecemos as mesmas conquistas e oportunidades. Eu sei o quanto minha autoestima precisa ser trabalhada todos os dias sei o quanto essa caminhada até o lugar onde eu estou hoje foi extensa e quanto ainda preciso ter forças para seguir, mas acredito em mim e nos meus ancestrais creio em meu criador e em tudo que ele fala comigo no meu íntimo e não desistirei assim como você não vai porque somos fortes e corajosas e temos o divino dentro de nós então podemos e vamos chegar onde nossos sonhos nos levarão. Seguimos sendo quem somos e nos amando cada dia mais, porque se o ódio por nós está lá fora ele não pode estar aqui dentro de nós.