A cultura empresarial muitas vezes não oferece suporte adequado para as mães trabalhadoras. Como você enxerga essa situação e quais seriam as mudanças necessárias para garantir melhores condições?
A situação das mães trabalhadoras é uma questão complexa e preocupante. Gestantes e mães recentes são ainda objeto de grande preconceito e exclusão no mercado de trabalho e a estabilidade do emprego após a licença maternidade muitas vezes não é levada a sério.
Um estudo da FGV aponta que 50% das mulheres são demitidas em até 2 anos após o fim da licença maternidade.
Dados de 2021 do IBGE mostram que apenas 54,6% das mães entre 25 e 49 anos, com filhos até 03 anos estão empregadas formalmente.
O fato de que o cuidado invisível com a casa e os filhos ainda ser considerado uma "coisa de mulher" faz com que elas tenham duplas e até triplas jornadas e ainda sejam penalizadas por isso nos ambientes corporativos.
Isso gera problemas de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e leva a dificuldades financeiras e emocionais.
Para mudar esse cenário, é preciso que as empresas criem políticas e práticas que promovam a igualdade de oportunidades e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Mas a meu ver, o pontapé inicial precisa ser sobre a conscientização para o fato de que a maternidade é sobre um bem comum. A criança não é só da mãe. Quando se pensa o lugar de uma mulher que é mãe, é preciso considerar o afeto do outro genitor/a, dos tios, avós, irmãos e toda a rede de relacionamentos que compõem a vida de alguém. É preciso pensar sobre o futuro do país, do mercado de trabalho e das questões previdenciárias.
Não é possível que alguém que tenha um papel social tão importante, que é carregar futuros e possibilitar novas vivências afetivas para as demais pessoas através da vida que ela gera, seja penalizada por isso.
Infelizmente, as mães ainda enfrentam discriminação no local de trabalho quando engravidam ou retornam da licença-maternidade. Como essa realidade pode ser transformada para garantir mais igualdade de oportunidades?
As empresas precisam começar a oferecer treinamento para seus funcionários, principalmente para as lideranças, sobre a importância de apoiar as mães trabalhadoras e ter estratégias de como fazê-lo de maneira adequada e sensível.
Além disso, é preciso tratar a licença maternidade como um direito para a mãe e um ganho para a empresa, pois uma mulher segura e acolhida, certamente é uma colaboradora muito mais valiosa que aquela que não encontra segurança psicológica no seu entorno.
A flexibilidade no local de trabalho é uma das possíveis soluções para que as mães possam conciliar suas responsabilidades familiares e profissionais. Você poderia compartilhar exemplos de empresas que adotam essa prática e os benefícios que elas têm colhido?
A flexibilidade no local de trabalho é uma das medidas mais importantes para tornar possível que uma mãe, principalmente nos dois primeiros anos de vida do bebê, consiga se manter empregada.
Recentemente a consultoria Great Places to Work (GPTW) premiou as melhores empresas de grande e médio porte para uma mulher trabalhar em 2022.
Entre as 20 melhores, estão nomes conhecidos como a Magazine Luiza, a campeã dessa edição, Banco Bradesco, O Boticário, Vivo e Deloitte.
Alguns benefícios que se destacam entre as premiadas estão relacionados à flexibilidade e são licença-maternidade estendida e afastamento por doença de dependente. E entre as demais organizações destacadas pelo ranking, existem outras iniciativas que beneficiam todos os funcionários, independente de gênero e tornam a parentalidade possível, o que impacta diretamente na vida das mães. Entre essas iniciativas estão o horário híbrido de trabalho, redução da jornada sem redução de salário e horário flexível na organização.
Existe uma ideia equivocada de que empresas que adotam medidas para equilibrar o trabalho e o cuidado com os filhos precisam lidar com grande demanda de recursos humanos e financeiros, sem trazer retorno imediato nos negócios, mas estudos mostram que o investimento corporativo na parentalidade como um todo e na maternidade em particular, melhora a imagem das organizações, reduz o absenteísmo, aumenta a produtividade e ajuda a reter talentos".