O lugar de fala e a importância de reconhecer as diferenças para contribuir na luta contra o racismo, por Taynara Melo

13/04/2023

Ao falar sobre o conceito de lugar de fala, Djamila Ribeiro reconhece que pessoas que não vivenciaram determinadas experiências podem sim defender pautas importantes, como a igualdade racial. No entanto, é crucial que essas pessoas compreendam que sua perspectiva é limitada e que precisam ouvir e aprender com aqueles que sofreram diretamente as consequências do racismo para contribuir de maneira efetiva para a luta contra a discriminação racial.

Diretora e Fundadora da Revista Negra
Diretora e Fundadora da Revista Negra

Refletindo sobre meu próprio lugar de fala, venho de uma família de baixa renda; pai mestre de obras e mãe cabelereira, tive que trabalhar desde muito cedo, aos 12 anos, para ter uma carreira que me permitisse uma vida melhor. Como mulher negra, enfrentei muitas barreiras na busca por oportunidades, além de ter crescido no meio de uma crença de que mulher não precisava fazer faculdade, pois havia nascido para cuidar da casa  e ter filhos,  apesar de ter me dedicado a estudar e me aprimorar em diversas áreas. Infelizmente, mesmo com uma formação em administração, especialização em marketing e cursos de escrita, ainda me deparo com limitações impostas pelo racismo estrutural em minha trajetória profissional. Até meus 26 anos, mesmo apresentando o tamanho do meu conhecimento e sendo cofundadora, as únicas oportunidades que me permitiam exercer na parte operacional, minha ideias e opiniões e projetos eram descartadas sem mesmo ser explicadas.

Decidi, então, usar meu lugar de fala para criar oportunidades e lutar contra o racismo e o sexismo. Há três anos, tomei a coragem para trilhar meu próprio caminho e criar minhas oportunidades, me torneir escritora e professora de escrita criativa, fundei a Revista Negra, que tem como objetivo destacar o trabalho de mulheres negras em diversas áreas e abordar uma variedade de pautas relevantes. Quando lancei a ideia, muitos desencorajaram a iniciativa, argumentando que não havia público para uma revista assim, pois não teria mulheres brancas representando marcas e sim pretas. Mas persisti e, com o apoio de outras mulheres negras, conseguimos consolidar a publicação no formato digital e agora estamos prestes a lançar a primeira versão impressa no aniversário de um ano.

Durante todo o processo de construção da revista, enfrentei o racismo estrutural e a falta de representatividade no mercado editorial. Infelizmente, muitos ainda acreditam que pessoas negras não têm capacidade de liderar e produzir conteúdo de qualidade em diversas áreas. É essencial que todos nós reflitamos sobre como estamos utilizando nosso lugar de fala para combater a discriminação racial e de gênero e ampliar a representatividade de pessoas que historicamente foram marginalizadas e invisibilizadas.

Texto, por Taynara Melo.

Há 20 anos, as mudanças em como nos relacionávamos, convivíamos em locais de trabalho, em família, com amigos, em eventos sociais, políticos e até religiosos despontavam a ideia de que o "tradicional", convencional ou o que estávamos acostumados a ver como normal, não era nem de longe a única forma de viver. Nessa época, não tínhamos tanta abertura...